Desde que me lembro, sempre quis criar coisas para aproximar as pessoas.
Meu avô demonstrava seu afeto por nós preparando o delicioso almoço de domingo com toda a família reunida. Aprendi com ele e com minha mãe que não há nada melhor no mundo do que preparar uma boa refeição para unir as pessoas.
Uma amiga da juventude foi um passo importante nesse caminho. Foi ela quem me convenceu a cursar Desenho Industrial em vez de Publicidade e Propaganda. Ela sempre dizia:
“Michele, design não é o que você vê, é o que você sente.”
Ela foi minha companhia diária durante o cursinho na Frei Caneca, no ano de 2001. Começamos com o objetivo de prestar Publicidade e Propaganda, mas no meio do ano, ela mudou de turma e decidiu cursar Desenho Industrial. Com a empolgação de uma jovem de 20 anos, ela me fez mudar de ideia. No dia das inscrições, como quem tem toda a certeza do mundo, decidi por Desenho Industrial.
Na faculdade, meu desejo de criar para unir as pessoas só cresceu. Nas aulas de marcenaria, meus amigos e eu nos juntamos para criar uma mesa no formato de quebra-cabeça, e no final do semestre nos sentamos nela para comemorar. Lembro da minha primeira cumbuca em cerâmica marrom, um “desastre” que deu errado. Recordo o som das risadas no ateliê, as mãos cobertas de argila e o calor do forno. Lembro de todos juntos.
Mas minha trajetória como designer de produto durou pouco.
Meu primeiro emprego foi em uma agência de propaganda, e esse universo tomou quase 20 anos da minha vida. Trabalhei na criação de campanhas para o varejo, merchandising, materiais promocionais, identidades visuais e anúncios. Fiz trabalhos para grandes clientes e conquistei um espaço importante no mercado. Porém, eu havia construído uma longa história que não tinha vontade de contar para ninguém.
Meu trabalho era descartável, raso, sem propósito. Toda semana, quinzena ou mês, criava uma nova campanha. Criava para agradar os diretores de criação, os donos das agências, os clientes. Criava para que ninguém se lembrasse.
E, de repente, a publicitária que trabalhava 12 horas por dia, que atendia os maiores clientes do Brasil, liderava equipes de diretores de arte, designers, ilustradores e arte-finalistas, decidiu parar de criar para agradar os outros. Algo dentro de mim havia se apagado.
Em 2021, me afastei completamente do meu DNA criativo e mergulhei no universo de produtos digitais. Foram 1 ano e 3 meses de aprendizado, trabalho intenso, estresse, resiliência e conversas profundas. Foram meses ouvindo a linguagem indecifrável dos desenvolvedores.
Esse foi um período em que o mundo parecia girar mais rápido. Tudo era urgente. E como eu trabalhei, meu Deus, como eu trabalhei.
Aos poucos, os produtos começaram a ganhar forma. Os resultados começaram a aparecer. Os clientes começaram a elogiar. Mas, aos poucos, eu também fui desanimando. E a vontade de criar começou a renascer. Sentia saudades do tempo em que minha única preocupação era criar.
Criar para compartilhar.
Criar para servir.
Criar para juntar pessoas e gerar histórias memoráveis.
E foi assim que nasceu a CeraMi. No início de 2023, conheci a cerâmica e, com ela, reencontrei meu desejo de criar para aproximar as pessoas. O universo de produtos digitais ficou para trás, dando lugar a peças únicas e cheias de personalidade.
Aprendi que a cerâmica artesanal tem o poder de reunir pessoas em torno da mesa, de servir, cuidar e fortalecer relações. E, convenhamos, se tem algo de que o mundo está precisando, é de relacionamentos mais fortes e verdadeiros.